sábado, 22 de agosto de 2009

O homem que gostava das mulheres

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Algumas peças assinadas pelo costureiro francês Yves Saint Laurent estão em exposição em Lisboa, no Museu Nacional do Traje, desde 16 de Maio. A mostra só fecha as portas em Outubro e visa homenagear o costureiro francês que, vindo da Alta-Costura, foi «o primeiro a trazê-la para a rua, na sua boutique Rive Gauche», como bem recordou Clara Vaz Pinto, directora do Museu.



Nascido na Argélia a 1 de Agosto de 1936, Yves Saint Laurent chegaria a Paris bastante jovem. Na bagagem, alguns croquis de moda. Dirige-se com eles à sede da “Vogue” e mostra-os a Michel de Brunhoff, o director todo-poderoso da revista que imediatamente se rende ao seu talento. Ascensão fulgurante, passado pouco mais de um ano, em 1955, torna-se assistente de Christian Dior. Com a morte prematura deste, em 1957, YSL assume a direcção artística da Maison Dior e, logo em 1958, lança a linha «Trapézio», uma entrada de leão na modernidade que põe fim à ditadura da «cintura de vespa».«Gostava de ter inventado as blue-jeans. São despretensiosas, têm carácter, sex appeal, simplicidade – tudo o que desejo para as minhas roupas»; a confissão é do próprio. Pierre Bergé, seu companheiro e mentor, militante de esquerda e da causa homossexual, confirmaria o carácter democrático da ideia de moda subjacente ao trabalho do costureiro francês que, não menos do que Cristóbal Balenciaga, Coco Chanel ou Christian Dior, revolucionou para sempre o vestuário feminino: «A única peça que ele lamentou não ter inventado foi os jeans. Uma peça unissexo que suprime as classes sociais».



Com «Trapézio», libertara a silhueta, emancipando-a dos cortes espartilhados. Em 1965, assinada já com o seu próprio nome, a colecção «Mondrian» surgiria como um hino à cor e à geometrização das formas. Depois é o smoking masculino que YSL torna feminino, na colecção com o mesmo nome apresentada em 1966. Botas acima do joelho, blusões em pele, transparências, look safari… O costureiro não pára de inovar, sempre do lado das mulheres: «Desenho de modo a que as mulheres se sintam tão seguras nas suas roupas como os homens nas deles». Hoje parecerá banal. Era uma revolução!



Tímido, frágil, sujeito a depressões cíclicas, escondendo-se atrás de uns óculos grandes que nunca abandona (nem quando pousa nu para o anúncio ao seu perfume «Pour Homme», lançado em 1971), YSL era – com justiça – amado pelas mulheres. Quando deixa definitivamente a moda, em 2002, o espectacular desfile organizado no Centro George Pompidou, em Paris, reuniu algumas das suas fãs incondicionais: Diane von Furstenberg, Loulou de la Falaise, Betty Catroux e, claro, Catherine Deneuve, que usava YSL pelo menos desde que o costureiro a vestira para o filme «Belle de Jour».
A marca de alta-costura que leva as suas iniciais surgira em 1961, quando o rompimento com a Dior o conduz à criação da sua própria etiqueta (tendo entrado em depressão após ter sido recrutado para a guerra da Argélia, a Maison do número 30 da Avenida Montaigne apressara-se a substituí-lo por Marc Bohan). YSL seria um sucesso, o qual se consolidaria com o lançamento, em 1966, da linha Prêt-à-porter YSL Rive Gauche. A moda nunca mais seria à mesma; citando de novo Clara Vaz Pinto, a Alta-Costura fora trazida para a rua.
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Texto: Ana Cristina Leonardo
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By: Maristela
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